
"Sequer conheço Fulana,
vejo Fulana tão curto,
Fulana jamais me vê,
mas como eu amo Fulana.
Mas eu sei quanto me custa
manter esse gelo digno,
essa indiferença gaia
e não gritar: Vem, Fulana!
Sou eu, o poeta precário
que fez de Fulana um mito,
nutrindo-me de Petrarca,
Ronsard, Camões e Capim;
que a sei embebida em leite,
carne, tomate, ginástica,
e lhe colo metafísicas,
enigmas, causas primeiras.
Mas se tentasse construir
outra Fulana que não
essa de burguês sorriso
e de tão burro esplendor?
E digo a Fulana: Amiga,
afinal nos compreendemos.
Já não sofro, já não brilhas,
mas somos a mesma coisa.
(Uma coisa tão diversa
da que pensava que fôssemos.)
Trechos do poema O Mito, de Carlos Drummond de Andrade.


1 comment:
Não conhecia esse poema, é lindo. Fui buscar e achei num site.
Até que enfim você passou um paninho por aqui! Keep on posting, Clair. Blog non stop project.
Kisses.
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