Quando Albert Einstein visitou os
Estados Unidos pela primeira vez, em abril de 1921, constatou os efeitos do Ato
de Proibição Nacional, que desde janeiro do ano anterior baniu a produção,
comercialização e importação de bebidas alcoólicas em todo o país. A proibição americana, que entre os
brasileiros passou a ser apelidada de Lei Seca, durou até dezembro de 1933,
quando foi revogada. Einstein criticou a
lei, em texto publicado no seu livro Como vejo o mundo, cuja edição original é
de 1953. Apontou, com franqueza, três razões para a sua crítica à lei: não ia
pegar, estimulava a contravenção e a criminalidade, abafava a vida social nos
Estados Unidos.
Ele dedicou um capítulo do livro às suas impressões iniciais sobre os
Estados Unidos. Nele, Einstein exalta as qualidades da democracia americana, especialmente
no que diz respeito à força da sociedade civil, em contraste com o reduzido
raio de ação do Estado. Mas, ao mesmo
tempo, mostra-se decepcionado com o empalideci-mento da opinião pública,
provocado pela derrocada dos bares.
Escreveu:
“ O prestígio do governo tem
inegavelmente diminuído, de modo considerável, em consequência da Lei
Seca. Nada é mais danoso à
respeitabilidade das leis e do Estado do que aprovação de leis que não são
postas em prática. Já não é mais
segredo que o perigoso aumento da criminalidade no país está intimamente
relacionado à Lei Seca. A meu ver, há um
outro aspecto da lei que contribui para o enfraquecimento do Estado. O botequim é um lugar em que as pessoas têm a
oportunidade de trocar ideias e opiniões sobre assuntos públicos. Até onde
posso enxergar, as pessoas daqui não têm mais condições de exercer isso,
fazendo com que a imprensa, que é em grande parte controlada por determinados
interesses, acabe tendo uma excessiva influência sobre a opinião pública”.
Com a Lei Seca, proliferaram o contrabando e a
produção de bebidas falsificadas, estas muitas vezes contaminadas pelo
acréscimo de produtos químicos, como solventes de tintas e formol. Em Chicago e em Nova York, os mafiosos Joseph
Bonanno e Alphonse Capone controlavam a fabricação e comercialização dessas
bebidas, desafiando as autoridades e as
leis. Os Estados Unidos, no entanto,
assentados sobre as bases de uma democracia madura, deram a volta por
cima. Extinguiram o Ato de Proibição
Nacional, substituindo-o por normatizações de venda e de consumo que ainda
prevalecem nos tempos atuais.
Em 1933, com a ascensão do
nazismo de Adolf Hitler, Albert Einstein abandonou a Alemanha, e, ao
desembarcar nos Estados Unidos, declarou: “Enquanto eu
tiver qualquer condição de escolher, só ficarei no país em que haja liberdade
política, tolerância e igualdade dos cidadãos diante da lei” ("As long as
I have any choice, I will stay only in
a country where political liberty, toleration, and
equality of all citizens before the law are the rule"). Lá faleceu aos 76 anos, em 1955.
Os
bares e restaurantes fomentam a democracia, que se baseia, também, na arte
cívica das conversas. É como disse e
escreveu Albert Einstein: “Das Wirtshaus ist eine Stätte, die den Menschen Gelegenheit bietet, ihre
Gedanken und Meinungen über die öffentlichen Angelegenheiten
auszutauschen”. E, em bom português: “O
botequim é um lugar onde as pessoas têm a oportunidade de trocar ideias e
opiniões sobre assuntos públicos”.


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