As pessoas andam sem destino. Porque o destino não existe. O
destino é tudo aquilo que não conseguimos nomear. Toda segunda feira era assim,
ela acordava disposta, tomava o café de sempre: mamão, pra facilitar o trânsito
intestinal; duas fatias de pão integral, pois o integral é melhor pra saúde que
a farinha branca, assim dizem por aí nesses dias de hoje; margarina, pois é
melhor que manteiga, café bem forte pra levantar o provável e quase certo
desânimo desse dia que é o início de uma nova semana, um rito periódico pra
celebrar o desentusiasmo pela vida.
Ela precisava sorrir, faltava aquele allure, aquela sensação
de que tudo fazia sentido no mundo, algo que não lhe era raro acontecer nos
recônditos da alma, mas, às segundas, raríssimo. O ceticismo, de tanto escutar
isso dos outros, de tanto ler nos livros, foi lhe tomando conta. A insistência naquela fé pelajada, tinha sumido aos poucos. E agora o mundo das formigas
era a referência para o vazio da vida. Sartre, Camus, Freud e quase cem por
cento dos intelectuais negavam a fé, colocavam toda a crença apenas na
existência, no fazer. E isso pra ela não fazia sentido, mas passou a achar mais
cômodo e lógico. A lógica burra, pensava ela, mas ainda assim, a lógica. A
razão desestabilizadora do mundo, pois o mundo não pode ser apenas isso que se
vê, o ser humano há de ser tomado por sentimentos mais nobres e profundos, mas
não a profundeza da tristeza ou da alegria, diga-se de passagem, essa muito
mais próxima da grandeza de Deus do que a outra. Há de se sentir um ar puro e
profundamente estabilizador das forças contrárias ao concreto. Há de se haver
um toque de luxo poético nas olhadelas pro cotidiano mundano. Nem que seja um
ato de auto-engano.
Sei lá. É muito peso dentro da alma. É muito passado aqui
dentro, ó. Andava pelas ruas que uma vez ou outra tinha andado e se via, com
sisudez e esperança de futuro. Uma compenetração e um certo reconhecimento da
tristeza de hoje na mesma da de ontem. Precisava tanto falar, chorar e chorar com alguém por perto, mas, nessas
horas sempre tinha uma indagação profunda do motivo de tamanha tristeza. Mas
não sabiam as pessoas que tristeza não se explica? Que apenas segura-se na mão
da pessoa e escuta-se o indizível?
Tinha várias rachaduras, como outros tantos seres nesse
planeta. E ficava pensando porque algumas pessoas se safavam dessas dores
todas, mas as paredes internas trincadas eram como cicatrizes que de tão
cicatrizadas, ninguém vê. Escutava música, olhava pro mundo assim, distante,
aquela nostalgia de certos dias, de certos sentidos.


2 comments:
Tenho tentado escrever sobre uma possibilidade de destino. O destino individual, não me parece existir, a não ser dar continuação ao todo. A natureza evoluiu, segundo estudos. Se ela tem evoluído, e somos a última etapa dela, talvez façamos parte do papel de prosseguir. Nossa ferramente unicamente exclusiva, é a consciência. A evolução é construtiva. Cogito dizer que a consciência serve para analisarmos nossas ações, e analisar nossos impulsos do instinto animal, e caso não seja construtivo, mudaremos naturalmente. É incrível como a palavra "naturalmente" já diz por ela mesma. Relativo à natureza.
Francis, Obrigada pelo comentário. Essa do Naturalmente é mesmo incrível. Vou dar um pulo no seu blog. Abs.
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