Primeiramente, a ditadura cubana descobriu um escritor de origem camponesa: Reinaldo Arenas. Elevou-o à condição de estrela de uma revolução que queria se apresentar, aos olhos da opinião pública internacional, como oriunda das guerrilhas camponesas. “Mas Arenas tinha, como costumam dizer em Cuba, seu ‘defeito’, algo que soa quase como um desafeto: era homossexual e de uma forma muito chamativa, quase como uma louca de Havana Velha. Além disso, não fazia nada para ocultar ou reprimir seus hábitos: pertencia a essa jovem geração de homossexuais que criou o movimento gay. Não que a União de Escritores não tivesse tentado recuperar Arenas, não! Chegaram a lhe propor que se ele se casasse e formasse uma família formal o deixariam paz.”, escreveu o renomado escritor cubano Guillermo Cabrera Infante.
O martírio de Reinaldo Arenas e, indistintamente, de todos os homossexuais cubanos é relatado no livro ‘Mea Cuba’, de Cabrera Infante. Em ‘Mea Cuba’ há passagens como estas, que evidenciam a cruel homofobia dos irmãos Fidel e Raul Castro, compartilhada por Che Guevara:
“Arenas era um camponês, e como todos os camponeses, cabeça-dura: negou-se a obedecer e continuou com seus hábitos – sem ser monge. Depois escreveu um segundo romance: o brilhante, original e bem-sucedido ‘El mundo alucinante’.”
“De repente Arenas, além de invertido, viu-se convertido em controvertido. Desde os tempos de antanho não acontecia de um jovem romancista cubano ainda residente na ilha ter tal sucesso internacional.”
“Depois que o romance foi recusado pela União de Escritores (literalmente incompetentes mas muito competentes politicamente), Arenas enviou o manuscrito ao exterior sem consultar a União, um estranho editor: mesmo quando recusava um livro de forma definitiva queria saber quais seriam seus possíveis passos posteriores. Sobretudo depois da recusa.”
“O que sobreveio a Arenas não foi o sucesso, mas um repentino reconhecimento disfarçado de pesadelo espantoso. Perdeu o posto que tinha na Biblioteca Nacional, um cargo de pouca importância, é verdade, mas não pôde mais receber visitas do exterior e foi objeto de uma inspeção minuciosa por parte da Segurança de Estado, esse bando mui letrado da polícia política. (Um conhecido escritor venezuelano foi expulso de Cuba por reincidir no crime de tentar fazer contato com Arenas; 1984 está mais perto do que você imagina, camarada).”
“Por último, meteram Arenas na prisão sob a acusação de corromper um menor. No processo (de Kafka) o ‘corpus delicti’ apresentado ao tribunal quase como um ‘corpus deliciae’ era um robusto varão de 35 anos de idade, com uma adulta barba espessa e muito mais alto do que Arenas.”
“Arenas foi declarado culpado e condenado a quatro anos de prisão, por crimes contra-natura e contra o homem (socialista).”
“Arenas sobreviveu ao cárcere pela mesma razão por que tinha ido parar nele: era um camponês turrão.”
“Quando afinal foi posto em li’’’berdade, com quinze quilos a menos, tentou sair de Cuba contra vento e maré, literalmente.”
“Em Paris, tinha um amigo por correspondência que lhe enviou um barco de borracha na mala de um diplomata atrevido.”
“Mas, uma vez mar afora, a manufatura mediterrânea do barco não conseguiu resistir à força da corrente do Golfo e se rasgou, e Arenas teve que nadar de volta através da corrente de um mar com frequência infestado de tubarões.”
“Seu apartamento era na verdade um pequeno quarto de um antigo hotel colonial em Havana Velha. Ali estava escrevendo (e escondendo no teto, violinista, o que escrevia, dos ávidos leitores da Segurança do Estado) quando começou a invasão da embaixada peruana.”
“Três dias mais tarde, 11 mil pessoas lotavam o recinto da embaixada em busca de asilo, um fato sem precedentes na história da diplomacia, nem sequer comparável aos 55 dias em Pequim, quando houve a rebelião dos Boxers.”
“Foi então que chegaram os barcos de Miami, a Flotilha da Liberdade, num resgate de última hora: todo mundo tentava sair de Cuba em qualquer coisa que flutuasse. O governo, numa tentativa de justificar sua afirmação de que só a ‘escória social’ tinha procurado asilo na embaixada peruana, encheu na marra os barcos vindo da Flórida, que tinham sido alugados por particulares para seus parentes pobres na ilha, com todo tipo de delinquentes: gente solta das prisões, apanhada nas ruas de Havana e tirada de hospícios.”
“Como personagens saídos de Doré ou de Dante, os militares seguravam livros enormes, nos quais anotavam cuidadosamente os homens, mulheres e crianças prestes a deixar a ilha: nome, ocupação, endereço anterior.”
“Em janeiro de 1981 vi Reinaldo Arenas em Nova York e ele me pareceu o homem mais feliz do mundo. Sua odisseia tinha terminado com um final feliz. Enfim, Arenas tinha conseguido reunir-se com seu amante em Miami, os dois resgatados por um tio de Arenas, um tira de aspecto ameaçador mas, segundo Arenas, um homem adorável, apesar de pertencer à polícia da cidade e do condado de Dade
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